Participei nos dias 5 e 6 de
julho, no Rio de Janeiro, de uma oficina de imersão do INP – Instituto Novos
Paradigmas, de Porto Alegre, em parceria com IDHES, BRICs Center/PUC-Rio e
IBASE sobre “A crise do Multilateralismo e os Caminhos do Sul Global”, nos dias
em que se realizava na cidade o encontro dos países membros dos BRICs. Surgiram
muitas ideias e propostas estimuladoras, uma espécie de mapeamento de questões
para cidadanias ativas em luta por democracia, sem chegarmos a muitas
conclusões consensuadas. Como o evento foi inspirador em muitas questões,
resolvi fazer um apanhado do que me pareceu que merece atenção de um ponto de
vista de democracia ecossocial transformadora, que venho discutindo nas mais
diferentes postagens do meu blog “Sentidos e Rumos”. Isto não é e nem pretende
substituir o documento completo que o INP vai produzir como resultado de um
trabalho coletivo, certamente com muito mais ideias e propostas.
Destaco em primeiro lugar, a
importância da iniciativa do INP em nos interpelar para a questão do
multilateralismo e os BRICs tratado dominantemente como questão de governos do
Sul Global. Ela é também uma questão de cidadania que, talvez, não está
recebendo a devida atenção de nossa parte.
Uma primeira grande questão são
os enormes riscos de tragédia no ar, para além da geopolítica, causados pelas
loucuras do governo de extrema direita
do Trump, para manter a todo custo a hegemonia dos EUA, com a sua proposta MAGA
-Make America Great Again, hoje ameaçada inclusive pelos BRICs. A proposta pode
ser destrutiva e até nos levar a um conflito atômico de ordem mundial, com uso
de seu enorme arsenal militar e bases espalhadas pelo mundo.
No entanto, cabe ressaltar a
importância e a oportunidade dos BRICs, claramente apontando outro mundo
possível, mais includente e próspero. Esta iniciativa de governos do “Sul
Global”, dado o seu tamanho em população e PIB, aponta uma possibilidade de
outros caminhos, mais virtuosos e minimamente transformadores do poder mundial
vigente. Destaco algumas análises a respeito.[1]
Mas será que, de uma perspectiva de democracia transformadora do capitalismo
globalizado e financeirizado dominante, esperar que a aliança dos países
do BRICs prospere será suficiente para a
multiplicidade de situações e necessidades dos povos existentes no mundo?
Faço um destaque de algumas
questões que o evento INP me permitiu captar, como uma espécie de contribuição às
análises e debates que tem muito a destilar como ideias-força para nosso
ativismo cidadão, que demandam pesquisa, análise e ação. São desafios, acima de
tudo:
.
A manutenção da integridade dos sistemas ecológicos do Planeta Terra como bem
comum de toda a humanidade e de todos os seres vivos.
.
Redução imediata e drástica de desmatamentos e queimadas, de plásticos e
produtos tóxicos, da poluição das águas de rios e mares.
. Redução e até
eliminação da extração e do uso de energia fóssil como principal causa das
emissões de efeito estufa e mudança climática.
. o bem viver como nosso ideal de um pilar
para um “outro mundo”, sem deixar nenhum lugar ou povo de fora, construindo uma
biocivilização universal.
. Buscar
sistemas políticos de democracia ecossocial transformadora em busca de direitos
iguais na diversidade.
. Construir um
mundo onde cabem muitos mundos, como nos lembram os zapatistas do México.
. Trata-se de termos
um mundo como um tapete global de alternativas territoriais, como bem define e
articula a Global Tapestry of Alternatives ( iniciativa da Índia).
. Como
prioridades de cidadanias planetárias lutando pela radicalização da democracia precisamos
combater toda as formas de regimes de dominação e exclusão, racismo,
discriminação de gênero, de migrantes e a intolerância cultural e religiosa.
. Precisamos
de paz pelo mundo inteiro, sem guerras, sempre priorizando a negociação e a
busca de acordos de cuidado, convivência e compartilhamento, sem dominação de
um povo sobre outro. Um objetivo estratégico de nossa ação deverá ser impor, de
forma democrática, a redução de arsenais, bombas atômicas e as guerras pelo
mundo.
. Tudo isto
nos pode levar à multipolaridade e às democracias vivas como alternativa
radical ao capitalismo globalizado e financeirizado, com seu eurocentrismo e
“colonialidade” como paradigma civilizatório.
Estamos muito longe de tudo isto,
mas já existem sementes promissores lideradas por Povos Tradicionais em defesa
de seus territórios e modos de vida, multiplicação de iniciativas
agroecológicas, cidades sustentáveis, coleta e reciclagem de produtos
descartados, governos participativos, reservas protegidas e reflorestamentos
com espécies nativas, despoluição de rios, iniciativas de transporte livre em
cidades, para lembrar algumas iniciativas virtuosas e inspiradoras.
Para finalizar, penso que tudo
isto e muito mais podemos tomar como nossa tarefa de cidadania e intervir
determinados nas iniciativas governamentais na arena mundial.
[1]
Começam a se multiplicar as análises
sobre os BRICs, apontando diferentes aspectos sobre o seu significado e
possível impacto na atualidade. Destaco alguns que me tem ajudado nas minhas
próprias análises:
. FIORI, J.L. “Entrevista para Tutaméia, 27/08/23 (acesso:
https://tutameia.jor.br/novo-brics-explode-a-ordem-internacional);
.FIORI,J.L. A “multipolaridade” e o declínio crônico
do Ocidente. Rio de Janeiro, Observatório Internacional do Século XXI, n/° 5;
.GRZYBOWSKI, C. A Multipolaridade, o Papel dos BRICs e
a Agenda sobre Transições Energéticas e Mudança Climática. Rio de Janeiro,
IBASE.
.GRZYBOWSKI,C. Multipolaridade Para Outro Mundo?
Mudanças geopolíticas em curso na atualidade. Rio de Janeiro, IBASE.
.HEINE, Jorge. The Global South is on the rise – but
what exactly is the Global South? 31.07.23. (Acesso: utopia@robertosavio.info).
.MOREIRA, A.B., ALMEIDA,L.D. e STEDILE, M.E. BRICs Uma
Alternativa ao imperialismo? In: Front Tricontinental de Pesquisa Social e Front –
Instituto de Estudos Contemporâneos.
.ORANGE, M. “Brics: uma cumbre que preocupa a
Occidente.” BITACORA. Montevidéu,04.09.23.
.SANZ,J.A. “Lanueva Ruta de la Seda de los BRICS cruza
Eurasia, África e Sudamérica.”Corporación Latinoamericana Sur. Revista Sur,
28.08.23.
SOUZA SANTOS, B. “O BRICS+ e Confúcio. (acesso:
aviagemdosargonautas.net/2025/06/23/os-brics-e-confucio-por-b...)
.TOLCACHIER, J. “Qué crece con el BRICS?. Montevidéu,
04.09.23.
VISALLI, a. “La ampliación de los Brics, el amanhecer
de um nuevo mundo? Montevidéu, Bitacora, 11.09.23.
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